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Poema
 

Canção Para os Fonemas da Alegria * Thiago de Mello

 

Peço licença para algumas coisas.

Primeiramente para desfraldar   

êste canto de amor pùblicamente.                                                        Sucede que só sei dizer amor 

quando reparto o ramo azul de estrêlas

que em meu peito floresce de menino. 

Peço licença para soletrar, 

no alfabeto do sol pernambucano,

a palavra ti-jo-lo, por exemplo,

e poder ver que dentro dela vivem  

    paredes, aconchegos e janelas,        

e descobrir que todos os fonemas  

são mágicos sinais que vão se abrindo

constelação de girassóis gerando

em círculos de amor que de repente 

estalam como flor no chão da casa

Às vêzes há casa: é do o chão.                                

Mas sôbre o chão quem reina agora é o homem

Diferente, que acaba por nascer:                            

porque unindo pedaços de palavras

aos poucos vai unindo argila e orvalho,

tristeza e pão, cambão e beija-flor,

e acaba por unir a própria vida         

a seu peito de partida e repartida    

quando afinal descobre num clarão

que o mundo é seu também, que o seu trabalho

não é pena que paga por ser homem,

mas o modo de amar - e de ajudar

o mundo a ser melhor. Peço licença             

para avisar que, o gosto de Jesus,                  

êste homem renascido é um homem nôvo:

êle atravessa os campos espalhando 

a boa-nova, e chama os companheiros 

a pelejar no limpo, fronte a fronte,

 

contra o bicho de quatrocentos anos, 

mas cujo fel espêsso não resiste          

a quarenta horas de total ternura.       

Peço licença para terminar 

soletrando a canção de rebeldia

que existe nos fonemas de alegria:

 

canção de amor geral que eu vi crescer     

nos olhos do homem que aprendeu a ler.

 

 

 

 

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